sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

"ESCOLA É REDE SOCIAL"


No fim de semana, os dois principais jornais do país continuaram repercutindo o debate sobre o ensino do criacionismo nas escolas. No sábado, a Folha de S.Paulo publicou a visão do Ministério da Educação sobre o assunto. Resumindo: embora o ministério não possa forçar nada goela abaixo das escolas, para o MEC o criacionismo não deve ser ensinado em aula de ciências, segundo a secretária da Educação Básica, Maria do Pilar. Uma de suas frases: "[O ensino do criacionismo como ciência] é uma posição que consideramos incoerente com o ambiente de uma escola em que se busca o conhecimento científico e se incentiva a pesquisa." É sobre essa frase que eu gostaria de me debruçar um pouco.
Até onde se divulgou por aí, não parece que o criacionismo esteja sendo ensinado como ciência – apesar de ser ensinado na aula de Ciências. Colocar Darwin e o criacionismo lado a lado em sala de aula não significa, necessariamente, colocar os dois no mesmo patamar de conhecimento.
Vejo a questão do seguinte modo: Temos um fato – existe o universo, existe vida, e as espécies vão se modificando com o tempo, dando origem a novas espécies, e por aí vai. Pois bem: existe uma teoria científica que explica parte desses fatos (Darwin nunca se propôs a desvendar a origem do universo ou da vida, certo?); e temos uma outra teoria, não-científica (se entendermos "ciência" como aquela produzida em laboratório – afinal, Filosofia e Teologia também são ciências. O que quero dizer é que o criacionismo não pode ser "falseável", como se diz de toda teoria científica), que se propõe a explicar esses mesmos fatos. Até faz sentido que essas duas teorias sejam apresentadas em conjunto na aula de Ciências, pois são explicações diferentes para as mesmas realidades; só não faz sentido que as duas sejam consideradas igualmente científicas. Sim, são nuances, mas que fazem diferença. E parece que alguns educadores entendem essas nuances, pelo que se pode ver no depoimento de alguns educadores citados mais no fim da reportagem.
E ontem o caderno Aliás, do Estadão, trouxe uma matéria de página inteira com Roseli Fischmann, coordenadora da área de Filosofia e Educação da pós em Educação da USP. Diz a reportagem que o "pisca-alerta" de Roseli acendeu quando ela viu que escolas confessionais estavam ensinando criacionismo na aula de Ciências. O meu pisca-alerta também acendeu quando li a matéria.
Quando Roseli diz "levar o criacionismo para as aulas de ciências misturado aos conceitos da teoria evolucionista é uma distorção. Não dá para confundir as lógicas. O campo da ciência não é o da salvação, nem o da iluminação, nem o do ser infalível", ela ignora justamente a nuance que eu expus acima. Ninguém está falando de salvação, de pecado, e sim de uma versão religiosa para um fato científico. A salvação, essa sim fica apenas para a aula de Religião.
Mais tarde, Roseli vai dizer "então voltamos à imposição do criacionismo de algumas escolas no currículo de ciências. Não oferecer o conhecimento científico é sonegar esse direito às crianças e aos adolescentes". Opa, olha a falácia! Por acaso alguma das escolas cujos currículos vêm sido revirados ao longo destes dias simplesmente não ensina Darwin? Se todas ensinam a evolução, não se pode dizer que alguém esteja "sonegando o direito ao conhecimento científico".
- Considerando que precisamos cuidar de nossas crianças objetivando a "Educação do Futuro" - O MEC deve reavaliar os métodos e os currículos escolares! Maria M. Prybicz
Fonte: Gazeta do Povo
Ctba, 09/janeiro/2009
Maria M. Prybicz

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