quinta-feira, 25 de junho de 2015

A DESIGUALDADE BRASILERIA!

São muitas as armadilhas muradas em um país tão barbaramente desigual. Volta e meia os mais atentos percebem seu pé preso em alguma arapuca, justamente quando acreditavam rumar para a liberdade e para um mundo mais justo. Agora mesmo os condomínios fechados do tipo Alphaville são vistos por muitos como algo da ordem do ridículo. Mas também estes parecem renovar sua busca pelo paraíso perdido (e jamais achado). A moda no Brasil, há algum tempo, é comprar pedaços de terra com mata nativa e fontes de água em algum lugar, como nas regiões serranas ainda disponíveis do Sul e do Sudeste ou mesmo em pedaços “paradisíacos” da Amazônia.
 
Seria este anseio uma atualização do ideal de uma vida sem mal-estar, cercados por outro tipo de iguais, talvez ainda mais iguais do que os outros? Vizinhos ecologicamente conscientes, equilibrados por meditação, yoga e a prática saudável de esportes, que se locomovem em bicicletas e consomem orgânicos, com espaços e propriedades privadas bem definidas. É altamente sedutor para quem pode escolher seus muros, mas não seria esta uma renovação do condomínio, tanto de suas ilusões como de seu caráter de exclusão? Para quem é deixada a luta pelo espaço público para todos, em cidades cimentadas onde falta tanto água quanto árvores quanto o reconhecimento da humanidade do outro?
 
O “Mães de Maio” tem na origem um grupo de mulheres, a maioria negras, pobres e periféricas, que perderam seus filhos assassinados, suspeita-se que muitos deles executados pela polícia, nas ruas do estado de São Paulo em maio de 2006. O grupo faz a denúncia cotidiana da violência praticada pelo Estado contra os mais pobres. Costuma chamar Geraldo Alckmin de “governador genocida” e denuncia o que chama de “terrorismo de Estado”. Também empresta o nome à Comissão da Verdade que investiga os crimes cometidos pelo Estado no período democrático. Neste seminário, o movimento foi convidado de última hora para substituir um convidado de primeira hora que precisou cancelar sua participação. Mas recusou o convite. No manifesto explica o porquê.
 
Dito isso, escolho terminar caminhando com Tim Tim. No vídeo viral, a grande transgressão do pequeno rebelde é andar na rua e arriscar-se a encontros. Quanto tudo parece quase intransponível, quando me vejo cercada de muros que me encurralam, os de fora, mas também os de dentro, eu lembro do passo de Tim Tim. E encontro esperança nessa geração que está sendo educada no resgate do espaço público para todos, arriscando-se às diferenças para combater a desigualdade. Arriscando-se à experiência. Às vezes a vida pede a delicadeza de descobrir a rebelião também nos passos vacilantes, mas muito entusiasmados, de um guri com um redemoinho na cabeça.
Fonte: El País - Por Eliane Brum
Ctba, 25/jun/15
Maria Prybicz
 

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